Quem governa o Brasil é o PMDB há pelo menos 30 anos. Tudo
começou com a derrota da Arena em novembro de 1976. Em abril do ano seguinte,
Presidente Geisel, antevendo o fim da aura democrática que tentava camuflar a
ditadura militar por causa da vitória do então MDB, lançou umpacote que
culminou com o cancelamento das eleições de 1978. Se não fizesse isso, teria de
fechar o Congresso e admitir universalmente o que era o regime brasileiro. O
tal Pacote de abril limitou o número de deputados a quinze no míniimo e a 60 no
máximo, ficando proporcional ao número de habitantes de cada estado nesse
intervalo. Aconteceu que estados totalmente desabitados como Roraima e Amapá
passaram a contar com quinze deputados, enquanto São Paulo limitou-se aos
sessenta. Foi a partir daí que o sotaque nordestino ficou preponderante em
Brasília, influenciando os hábitos, iinclusive os alimentares. No centro do
Planalto Central encontram-se restaurantes de pescado entre os melhores do país,
graças ao gosto dos nordestinos litorâneos que formam a maioria na Câmara, seus
famíliares e assessores.
No mesmo pacote, foi criado o “senador
biônico” que era “eleito” por voto indireto tal que passaram a ser três por
estado, sendo o terceiro basicamente nomeado pelo governo, garantindo maioria
da Arena no Senado. Em rede nacional, Geisel disse: “Se não posso governar com
o sul, governarei com o Nordeste”. Essas distorções poderiam ter sido
corrigidas na promulgação da CF88 mas, ao contrário, perpetuaram-se.
A ascenção do
MDB – posteriormente PMDB – deveu-se à classe média que começava a clamar pela
democracia, clamor este que transbordou o ciclo dos intelectuais e cresceu até
1984, quando por eleiç´~ão indireta, Tancredo Neves tornou-se o presidente pelo
PMDB. Desde então, esse partido nunca mais saiu do governo, formando sempre o
vice, independentemente de quem estivesse no poder. A posição de iminência
parda é a mais confortável que pode existir politicamente. Governa, aprova os
erros e não figura como culpada. A máxima de que “Ninguém governa sem o PMDB”
está na boca de todos os congressistas, jornalistas e historiadores. É por isso
que esse partido é corgejado pela situação e pela oposição. Foi por Collor, e
seu PRN, pelo PSDB de FHc, pelo PT de Lula e agora encontra tapetes vermelhos
estendidos na casa do PSDB ou de qualquer partido que almeje o poder. É o que mais concentra bancadas como a
evangélica. A estória desse partido deveria ser alvo de estudos em História e
Ciência Política.
Apenas uma correção quanto ao "Pacote de Abril". O mínimo e o máximo de deputados federais por estado era, respectivamente, 6 e 55 - não 15 e 60. A manobra foi feita para favorecer a Arena, bem votada nos rincões, e prejudicar o MDB, que crescia em São Paulo.
ResponderExcluirMas onde a porca torceu o rabo mesmo foi na constituinte. Manteve-se a regra casuística, agora com um mínimo de 8 deputados e um máximo de 60 para cada unidade da federação. Se as unidades da federação são representadas no Senado, cada uma por 3 senadores, a Câmara deveria representar o povo, e manter a paridade com a população de cada estado. Infelizmente, a distorção do Pacote de Abril se perpetuou. Com isso, e até hoje, os estados menores são sobrerepresentados, e SP fica infrarepresentado. Ou seja: o voto de um paulista vale uma fração do voto de um acreano...